O Bixiga
HISTÓRIA DO NOSSO BIXIGA
Antigo bairro do Bixiga (Antes de 1.878)
Largo do Bixiga, junto com Largo do Piques, foi o ponto inicial do bairro e praticamente ambos formavam o antigo bairro do Bixiga.
O Largo do Piques era o ponto de convergência de tropas de mulas, enquanto que, do outro lado
do vale do Anhangabaú, o Largo do Bixiga era o ponto de convergência de carros-de-boi, vindos de Santo Amaro, carregados de madeira e pedra para construção.
Para isso, ele contava com suas invernadas muito boas, sempre alimentadas pelas águas do misterioso riacho Saracura. Nos anúncios dos almanaques Seckler (nos anos de 1885 a 1888), ainda se encontravam várias indicações que refletem essa função do Piques: uma espécie de boca da cidade voltada para o sertão, com seu chafariz, as suas pontes, os seus riachos, as suas hospedarias, as suas invernadas e os seus ferradores.
Em 1865, algumas alterações foram feitas nas denominações de largos e ruas de São Paulo. E o Largo do Bixiga recebeu um novo nome: Largo do Riachuelo, em homenagem à batalha do mesmo nome.
Mas ainda se conseguiu achar um espaço para a convivência social e construir um campinho de futebol.
No largo do Bixiga, se encontrava a estalagem de Antonio Bixiga.
A essa estalagem se refere Saint-Hilaire, quando de sua passagem por São Paulo, em 1.819, dizendo que alguém lhe indicou a hospedaria de um tal Bixiga, que possuía, dentro da cidade, vastas pastagens.
Conta também que havia muitas jabuticabeiras e laranjeiras plantadas simetricamente dentro de cercados.
Segundo dados históricos conhecidos, a residência do chacareiro e estalajadeiro Antônio Bixiga, localizava-se no início da hoje Rua Santo Antônio e no início da Rua Santo Amaro, tendo do lado Leste, o Riacho Itororó (Av. 23 de Maio) e do lado Oeste, o riacho Saracura (Av. nove de Julho) e à frente o Rio Anhangabaú.
E era também nesse mesmo local, onde se erguia um vasto rancho, que servia de pousada aos que vinham das bandas de Sorocaba a fim de vender aqui, seus animais, preferindo expô-los no Largo do Piques, onde se realizava, em dias certos, uma espécie de feira livre.
E, de acordo com João B. C. Aguirra, o início da Rua Santo Antônio constituíra, no passado, o pátio existente junto ao rancho, onde eram presos os animais, ficando em torno deste os quartinhos dos hóspedes.
Diante do rancho havia uma área limpa, na qual se prendiam, em estacas, os animais cujos donos ali apeavam para vender ou comprar coisas.
Num dos lados do Largo, na parte onde o terreno se apresentava mais plano e seco, estendia-se uma fileira de quartinhos, que eram alugados aos Viajantes.
Antonio Bixiga também era dono da chácara do Bixiga, por volta de 1.820, e cumpria com dedicação suas atividades de chacareiro, mas com pouco profissionalismo, mesmo para a época, a função de hoteleiro ou estalajadeiro.
De acordo com Saint-Hilaire, o pátio era um lugar cheio de lama, uma buraqueira danada. Todos os quartinhos tinham portas para o terreiro: eram úmidos e de uma imundice repugnante, sem forro e sem janelas e tão estreitos que mesmo com a bagagem toda empilhada restava pouco espaço para o viajante e seus companheiros se mexerem.
Sabe-se que o antigo bairro do Bixiga passou a ser assim denominado em 1792 ou um pouco antes.
largo dos Piques
Segundo o historiador Paulo Cursino de Moura, O Largo dos Piques é a própria “Velharia” da cidade, nascendo praticamente com ela.
Sua opinião, a denominação “Piques” acompanha a história da cidade desde tempos imemoriais.
Que Significa Piques?
Segundo o citado autor, o nome viria pelo acidentado do terreno. A pique eram todas as ladeiras em volta, toda encosta.
Qualquer descida para aquele centro do vale era a pique. Esta locução adverbial – a pique- degenerou, a gíria popular, para simplesmente pique ou piques, sendo todas as ladeiras piques. A confluência dos piques determinou a generalização do nome a tudo em derredor, ao largo. Surgiu a denominação genérica: largo do Piques, isto é, Piques.
Alguns cronistas chegaram a interpretar que o nome pique teria sido dado ao lugar em razão da brincadeira das crianças, que ali praticavam o pique.
No entanto, Paulo Cursino afirma que o brinquedo foi uma consequência do nome do largo, já existente, e não este consequência daquele.
Brincavam as crianças de outrora no Piques, como brincaram no Largo da Forca, da Pólvora, da Bica de Baixo, do Carmo, provindo daí os nomes dos brinquedos – “Angolinha”, “Bento que bento, frade”.
Em 1908, a Câmara Municipal alterou o nome da ladeira do Piques para Quirino de Andrade, mas o nome antigo persistiu por muito tempo, talvez devido à ligação que o largo do Piques e a ladeira têm com a história de São Paulo.
“As denominações não destroem a antiga – o Piques será sempre o Piques” , opina Paulo Cursino.
O pique, brincadeira
Como se sabe, consiste em uma das crianças ficar de costa para as outras Com os olhos tapados em frente a um determinado ponto de referência num muro, numa parede (ou na pirâmide do pique, originalmente) enquanto as outras se escondem pelas redondezas.
Após contar até 10, a criança destapa os olho sai a procura das crianças escondidas e tenta impedir que qualquer uma das escondidas chegue ao ponto de referência (o pique).
Se alcançar uma delas e nela tocar, grita pique” e esta passa a ser a próxima, que ficará com os olhos tapados e a brincadeira se reiniciará. E as que chegam ao pique, sem ser alcançadas, gritam também a palavra pique. E se todas chegarem, a brincadeira recomeça com a mesma criança que tenta impedir a chegada das outras.
As atribuições à pirâmide do Piques
A pirâmide do Piques começou a ser construída em 1.814. Sua construção se deve a Daniel Pedro Muller, que havia sido encarregado, no mesmo ano, da abertura da Estrada do Piques (atual Rua da Consolação) rumo a Sorocaba.
Consta que, com sobras do material, que utilizara em outras obras, Daniel Pedro Muller construiu o chafariz do piques. O pedreiro, que construiu o obelisco, provavelmente, teria sido Vicente Gomes Pereira, o Mestre Vicentinho.
O Obelisco foi valorizado pela construção ao fundo de um chafariz que veio quebrar a rigidez do Paredão, o qual também teria sido construído pelo mestre Vicentinho. O brasão da cidade, idealizado por Guilherme de Almeida e Wasth Rodrigues aparece, pela primeira vez em obra pública, nos azulejos.
O chafariz do Piques ou da Memória desapareceu em 1876, época em que deve ter havido uma reforma de vulto dando ao local a aparência que conservar a até 1919.
A primeira das atribuições da pirâmide seria em homenagem ao triunvirato que governava a Cidade, como seu autor afirmou em ofício de 12 de Outubro de 1814, enviado aos membros da junta Provisória.
A segunda das atribuições ao monumento teria sido uma homenagem do Conde de Palma ao Governador Lorena.
A terceira, na versão de Afonso A. de Freitas a pirâmide aparece como ‘monumento comemorativo da elevação do Brasil a Reino Unido, 1815″.
A quarta hipótese, citada por Afonso Arinos de Mello Franco no seu livro sobre Rodrigues Alves, aponta-se a obra como monumento à fundação dos cursos jurídicos.
Esta versão não pode ser aceita, pois, o monumento é de 1814, os cursos jurídicos foram fundados em 1827.
Leilões de escravos
No Largo do Piques se faziam semanalmente os leilões de escravos.
A principal função do largo não era ligada ao comércio de escravos, mas sim ao movimento de tropas. Esse movimento era tão frequente que houve, inclusive, em meados do século passado, um estabelecimento de fazendas a varejo que tomou o nome da Loja dos Tropeiros. Mas, ao mesmo tempo que funcionava como ponto de irradiação dos caminhos de ligação com o sertão, o Piques era também zona de baixa prostituição.
Rua Formosa
Em 1855, nos terrenos da chácara do Cadete Santos, a Câmara Municipal abriu a Rua Formosa -“rua que continuando a do hospital”, dizia em 1853 o jornal O Compilador, “pela margem esquerda do Anhangabaú, em terreno do senhor Comendador Santos Silva, vá sair ao lado da ponte do Lorena, onde indicar a reta, a fim de comunicar mais comodamente o Acu (São João) com o Piques Era uma necessidade premente na época e o Correio Paulistano assinalava: “..esse lugar de grandes transações do mercado (o Piques), o ponto de chegada de grandes tropas, que vêm do Sul e do interior da cidade, igualmente povoada e concorrida, por um terreno estéril e inútil. Queremos dizer que o habitante do Piques que quiser ir para o lado da Luz, isto é, a freguesia de Santa Efigênia, ou há de atravessar esse desfiladeiro escabroso que se chama Rua Nova de São José (Líbero Badaró) ou de galgar esse penhasco que se chama Ladeira da Rua da Palha ( Sete de abril)
Com o arruamento e loteamento dos terrenos próximos ao Largo do Piques, logo foi feito um novo bairro, chamado por muitos de Cidade Nova. Com isso, a pequena área, a que davam o nome de Pátio dos Animais passou a ser chamada Terreiro e, em seguida, Largo do Bixiga’. Desse modo, o Largo do Bixiga e o Largo do Piques se ligavam de maneira pouco ou nada perceptível, já que a única divisão existente era a nomenclatura, pois o espaço era o mesmo.
Junto à Pirâmide do Piques, ou Obelisco da Memória, existe hoje o Largo da Memória.
Em fins do século XX, esse largo foi cercado com altas grades, como era hábito então, ficando sempre fechado e com mato crescendo à vontade. Com essa aparência chegou a 1919, quando Washington Luiz encarregou Victor Dubugras da elaboração de um projeto para o novo largo. Essa obra enquadrava-se no programa de obras destinadas a comemorar o Centenário da Independência.
Com isso o Largo da Memória integrava-se ao Parque do Anhangabaú. A Ladeira da Memória passou a ser uma rua exclusiva para pedestres, uma das primeiras do gênero na cidade.
Inicialmente, o Largo do Piques absorveu inteiramente o do Bixiga, ou do Riachuelo – com o nome e tudo.
Mais tarde, Largo do Bixiga ou Largo do Riachuelo e Largo do Piques se transformaram na Praça da Bandeira, que, agora em abril de 2003, também desapareceu como praça.
Em meados de 2003, a Prefeitura de São Paulo restaurou o Largo da Memória, investindo cerca de 180 mil reais (60 mil dólares americanos), preparando-o para comemorar os 450 anos da fundação da cidade, que acontece em 25 de janeiro de 2004. “Mas não foram suficientes para deixar o lugar atraente. Os passageiros da Estação Anhangabaú do metrô nem se dão conta, que, ali ao lado se encontra o monumento mais antigo de São Paulo, o Obelisco da Memória Por isso, já existe um movimento, entre os intelectuais do bairro do Bixiga, para que a Estação do Metrô Anhangabaú passe a se chamar Largo do Bixiga.
Hoje não existe, no local, nada que recorde aqueles tempos iniciais, pois o Anhangabaú encontra-se canalizado, bem como o Riacho Saracura (Av. 9 de Julho).
Até mesmo o Largo da Memória, escondido em um canto da Praça, perdeu muito de seu encanto, apesar dos investimentos feitos na sua reforma.
E terminal de ônibus, passarelas de pedestres, estação do metrô, rodeada de barracas de camelôs e de mendigos.
Felizmente, ainda se conseguiu achar espaço para alguma atividade social e se construiu um campinho de futebol.
Se no Piques nasceu uma brincadeira de criança, por que hoje não pode ter um campinho de futebol?